Não faltam dados sobre a implicação e o impacto do agronegócio nos conflitos por terra no Brasil, em crimes ambientais, na violência armada praticada contra os povos originários, em denúncias de trabalho escravo e na fome. Há uma vasta documentação produzida sobre as violações de direitos que ocorrem cotidianamente no campo brasileiro. Diante de tudo isso, por que a impunidade segue sendo a tônica dos conflitos por terra no Brasil? A estrutura fundiária e a concentração de terras têm heranças coloniais que continuam a produzir conflitos que se caracterizam por práticas de grilagem (a falsificação de documentos de propriedade para apropriação irregular), desmatamento e queimadas, que acarretam perda da biodiversidade brasileira, além de ocasionarem também uma disputa violenta e desigual pela posse e controle das terras, que tem por maiores vítimas indígenas, quilombolas, posseiros e trabalhadores rurais sem-terra. A produção do agro é voltada especialmente para a exportação de três produtos: a soja, o milho e a cana. Esses cultivos servirão de alimento para o gado ou para a produção de combustíveis. Há uma redução na área destinada ao cultivo de arroz, feijão e mandioca, principais alimentos da população brasileira. De acordo com o IBGE, entre 1988 e 2018, houve uma queda de 24,7% para 7,7% da área cultivada destinada à alimentação, o que demonstra que o agronegócio não toma a agricultura como fonte de alimentos para a população, mas como negócio, acúmulo e concentração de riqueza. O modelo do agronegócio nos impacta na fome e, ainda, como evidenciado em um dos textos publicados nessa seção especial, na produção de novas doenças.
Leia o artigo de Mariane Martins em https://diplomatique.org.br/a-historia-que-o-agro-nao-conta-violencia-fome-e-devastacao/