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Grande parte dos trabalhos acadêmicos sobre o federalismo brasileiro há muito se concentra nas maneiras através das quais a descentralização produziu certa paralisia institucional diante de conflitos intergovernamentais. Este artigo, ao contrário, sugere que o Brasil está passando por uma transformação gradual desde sua democratização, o que levou a uma recentralização do poder nas mãos do governo federal. Apresenta-se uma estrutura que explica como um processo inicial de descentralização (1983-1994) se transformou em um processo de centralização (1995-2007) que, em última instância, aumentou os poderes regulatórios e de coordenação do governo federal brasileiro. Além disso, a análise mostra que dois blocos principais de partidos políticos competiram para influenciar a sequência e a velocidade de implementação da legislação relacionada aos processos de descentralização e centralização. Especificamente, esses partidos usaram duas estratégias temporais concorrentes – segurar o fluxo (foot-dragging) e definir o ritmo (pace-setting) – para desacelerar ou acelerar a aprovação da legislação que regulamentaria a autonomia subnacional. Depois que o bloco centralizador de partidos promulgou legislação centralizadara, utilizou a estratégia de construção de cercas (fence-building), a fim de institucionalizar as relações intergovernamentais, consolidando assim os poderes de coordenação do centro. A principal contribuição deste artigo é avançar uma abordagem temporal das mudanças federais, explicando como o governo federal brasileiro centralizou a autoridade sob a égide de uma Constituição descentralizadora.

Leia o artigo de Helder Ferreira do Vale em https://www.scielo.br/j/dados/a/gm8rYbTtYkHBLSwZvDtNnxj/?format=pdf&lang=en

O artigo analisa fatores associados à descontinuidade do orçamento participativo (OP) em municípios brasileiros acima de 50 mil habitantes no período entre 2000 e 2016. A pesquisa foi analisada pela estimação de modelos econométricos com foco em variáveis explicativas políticas e pela propensão do ambiente local à participação. Os resultados indicam que a descontinuidade está associada positivamente com a troca do partido do prefeito municipal entre as eleições, a despeito da ideologia do partido; positivamente com a troca da ideologia do partido do prefeito, com a entrada de partidos de esquerda; negativamente com a entrada de partidos com outras ideologias; e positivamente com a troca entre partidos de esquerda. A descontinuidade não apresentou efeito com a troca entre partidos com outras ideologias. Os resultados indicam fatores locais e contextuais explicativos para a descontinuidade do OP, permitindo direcionar desenho de políticas públicas participativas e levantando reflexividade sobre mecanismos que devem ser adotados localmente para que não ocorra a descontinuidade, além de contribuir para a literatura ao demonstrar a associação entre a descontinuidade com a troca de partidos da esquerda, o que pode suscitar pesquisas futuras, dado que o resultado não era esperado.

Leia o artigo de Ricardo Rocha de Azevedo e outros em https://www.scielo.br/j/rap/a/fhws9HYFQx4tRTDVX8Zr4Md/?format=pdf&lang=pt

O artigo investiga que fatores estão associados à qualidade da transparência em sites de governos locais no Brasil. Também questiona em que medida instituições de controle externo têm pressionado os municípios a melhorarem os recursos de transparência online. Por meio de modelos de regressão múltipla, discute de que modo variáveis sociodemográficas, políticas e econômicas são relevantes para explicar as diferenças na transparência digital em 5.563 cidades. Apesar de haver um processo de institucionalização da transparência pública liderado pela evolução da regulamentação federal, os resultados mostram que as experiências em nível local permanecem heterogêneas. Tamanho da população, PIB per capita, nível de educação e a participação eleitoral são estatisticamente importantes para explicar a qualidade das experiências de transparência digital. Conclui-se que agentes reguladores externos desempenham papel crucial na qualidade da transparência digital devido à possibilidade de impor penalidades legais. Uma utilização eficaz dos media digitais para promover práticas democráticas envolve a pressão de agências externas de monitoramento dispostas a desafiar uma cultura burocrática resistente à abertura.

Leia o artigo de Fellipe Herman e outros em https://www.scielo.br/j/op/a/ZKVdtWkf55NsybLDDTkDg5d/?format=pdf&lang=en

Por que os atores políticos promovem a transparência pública? Estudos mostram que a adesão à transparência pode ser tanto politicamente estratégica, ou seja, para atar as mãos do sucessor, quanto resultado da observação da adoção da política feita por outros municípios, isto é, para minimizar o custo da informação. Testamos as motivações políticas e informacionais para explicar a adoção de leis de transparência com uma análise subnacional da difusão da LAI nos municípios brasileiros (2011-2019). Os resultados mostram que tanto o aprendizado quanto as motivações da estratégia política afetam a probabilidade de adoção da LAI. Fatores socioeconômicos também são importantes fatores explicativos. No entanto, uma análise dos efeitos heterogêneos mostra que o mecanismo de aprendizagem é relevante para reduzir o impacto dos fatores socioeconômicos. Isso significa que aprender com os vizinhos minimiza o custo da informação e a dependência de fatores estruturais para promover a transparência em nível local.

Leia o artigo de Mariana Batista e outros em https://www.scielo.br/j/rap/a/JBXGPbHDWrD8K8r6cSq6rQH/?format=pdf&lang=pt

O objetivo deste trabalho é contribuir com a literatura sobre administração pública ao realizar um estudo epistemológico das principais correntes do campo, atualizando-as com o Círculo das Matrizes Epistêmicas proposto por Paes de Paula (2016). Para isso, (a) parte-se do ensaio realizado por Andion (2012) , que realiza um estudo crítico sobre a trajetória do campo da administração pública no Brasil e as diferentes correntes teóricas que o compõem, com base no modelo de paradigmas construído por Burrell e Morgan (1979); (b) analisam-se as principais correntes que compõem o campo da administração pública, denominadas Estadocêntrica; Pluralista; Nova Administração Pública, Novo Serviço Público e Digital-Era Governance à luz do Círculo das Matrizes Epistêmicas proposto por Paes de Paula. Como resultados, confirma-se que abordagens sociológicas funcionalistas possuem forte influência no campo da administração pública. Sugere-se maior diálogo entre as correntes que compõem o campo e o desenvolvimento de novas proposições de matrizes – em atenção especial à transformação digital impulsionada pela Digital-Era Governance e pela crise sanitária do novo coronavírus (SARS-CoV-2) – levando-se em consideração que a lógica racional instrumental é insuficiente para explicar os fenômenos da realidade, mesmo que necessária para a racionalização dos bens e interesses públicos. Por fim, apresentam-se reflexões e agenda para pesquisas futuras. Leia o artigo de Patrícia Araújo Silva e Ana Cristina Batista dos Santos em https://www.scielo.br/j/osoc/a/wksks6czbczStmBMgvWygqd/?format=pdf&lang=pt

O ponto de partida deste artigo é a conjectura de que a explicação econômica tradicional para a corrupção baseada no modelo agente-principal é necessária, porém insuficiente para compreender por que a corrupção surge e persiste ao longo do tempo. Mais precisamente, o artigo sustenta a tese de que mecanismos de reciprocidade, juntamente com heurísticas e vieses, têm papel importante na explicação de condutas corruptas. Com base nas evidências experimentais que dão sustentação à nossa conjectura ousada, examinamos as implicações da chamada “guinada comportamental” para a agenda anticorrupção.

Leia o artigo de Roberta Muramatsu e outros em https://www.scielo.br/j/neco/a/GJnFfjR4KZHqqzQYqrszpMB/?format=pdf&lang=pt

El Instituto de Investigación Económica Aplicada (Ipea) y la Comisión Económica para América Latina y el Caribe (CEPAL) desarollaron, en 2019, una investigación comparativa buscando caracterizar y analizar las condiciones de gobernanza metropolitana en países del subcontinente latinoamericano, abarcando países federativos y países unitarios. América Latina constituye una de las regiones de más elevado grado de urbanización en el mundo, y el surgimiento de ciudades de más de millón de habitantes se ha acelerado en las últimas décadas, trayendo retos para el desarrollo urbano-metropolitano. La investigación, llevada a cabo con el apoyo de consultores contratados por la CEPAL, ha permitido identificar el estado del arte de la gobernanza metropolitana en la región, contribuyendo a la reflexión sobre el diseño, monitoreo y evaluación de políticas públicas en sus espacios metropolitanos. Es un documento de referencia para los académicos de esta área y una fuente de consulta imprescindible para los administradores públicos.

Leia o estudo IPEA/CEPAL em http://repositorio.cepal.org/handle/11362/47751

O presente artigo tem por objetivo evidenciar os conflitos e as disputas no âmbito do espaço participativo durante o processo de revisão do Plano Diretor de São José dos Campos/SP. Neste contexto, verificou-se uma visão ideológica municipal comprometida com a criação de suporte territorial para atração de capitais, que deveria ser legitimada durante a revisão do Plano Diretor. Considerando isso, analisam-se: a formação do espaço participativo institucional, a ação discricionária do poder público municipal para aprovação do Plano Diretor em 2018 e os cenários de resistência à ordem implantada por meio das ações da sociedade civil organizada.

Leia o artigo de Paulo Romano Reschilian e outros em https://www.scielo.br/j/cm/a/6LG4j3qk97Dw5njrQVdpbMQ/?format=pdf&lang=pt

A literatura sobre facções e sua expansão reforça majoritariamente os pressupostos jornalístico-policiais de que o “crime organizado” se expande disputando à força “rotas” de drogas e outros mercados ilegais. Em contraponto a essa perspectiva, deslocamos o olhar para o cotidiano de populações marginalizadas, entre as quais o mundo do crime se expande há décadas como alternativa de mobilidade social.

Leia o artigo de Adson Ney Amorim e Gabriel Feltran em https://www.scielo.br/j/nec/a/Jx4G73fqQRFckvSMNNTNJKJ/?format=pdf&lang=pt

Argumentamos que a influência dos movimentos sociais sobre as políticas públicas é marcada por uma porosidade bilateral, na qual os movimentos tanto buscam penetrar nos poros do Estado quanto se abrem para que este permeie suas organizações. Por meio de dois estudos de caso, o Movimento Interfóruns de Educação Infantil do Brasil (MIEIB) e Movimento Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (MSTTR), mostramos como tais movimentos organizam seus espaços incluindo o Estado, que, nesse contato, legitima pautas, qualifica-se nelas e presta contas.

Leia o artigo de Monika Dowbor e outros em https://www.scielo.br/j/nec/a/q3f3ZLDvSS8jXm8BSS59fJc/?format=pdf&lang=pt