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A noção de “complexo” nos estudos urbanos e regionais brasileiros foi relevante no contexto agroexportador e industrial nos séculos XIX e XX, respectivamente, ao revelar arranjos sociais da urbanização nesses momentos históricos. Na interpretação das transformações urbanas contemporâneas, sustenta-se que a noção do “complexo imobiliário-financeiro”, concebida no Norte Global, deve considerar as especificidades de cada formação social particular. Este trabalho busca compreender a formação e a atuação de um complexo em decorrência do desenvolvimento dos Fundos de Investimento Imobiliário (FIIs). Investigam-se os principais marcos institucionais do instrumento e os agentes envolvidos em seus desenhos, de modo a problematizar as essências constitutivas do complexo que suporta o instrumento e as transformações no espaço. A pesquisa identifica o domínio das instituições financeiras nacionais, em articulação com as finanças globais, sobre a indústria de FIIs e propõe a categoria de “complexo financeiro-imobiliário”, a qual indica a subordinação dos interesses do setor imobiliário aos financeiros.

Leia o artigo de Vinicius Kuboyama Nakama e Beatriz Rufino em https://www.scielo.br/j/rbeur/a/4S38vbnQd5JCNmYCDLgbLyH/?format=pdf&lang=pt

Mercados imobiliários revelam aspectos relativos à rede urbano-regional de um país e também às possibilidades para o desenvolvimento dessa rede de forma policêntrica. Usando uma base de dados inédita, este artigo investiga os mercados imobiliários em metrópoles de segundo, terceiro e quarto níveis no Brasil. Explora-se a variabilidade e criam-se tipologias de mercados imobiliários nas metrópoles selecionadas – Brasília, Belo Horizonte, Salvador, Florianópolis e Vitória – por meio de métodos multivariados. Os resultados indicam altos níveis de segmentação dos mercados, jogam luz sobre os processos de suburbanização em contraposição à presença de centros fortes e geram preocupações sobre a capacidade de pagamento dos residentes em alguns municípios. Dentro de cada metrópole, os mercados imobiliários variam substancialmente, evidenciando alto nível de segregação social; entre elas, há similaridades intrigantes, indicando como os locais residenciais e comerciais são (re)produzidos de maneira relativamente genérica no país.

Leia o artigo de Renan P. Almeida e outros em https://www.scielo.br/j/rbeur/a/5zQLXsxDPv55CWq7CJV447P/?format=pdf&lang=pt

A partir de uma análise comparada e da mobilização da literatura de Ciência Política, Economia e Economia Política do Desenvolvimento, este artigo analisa as relações entre o Estado brasileiro, a burocracia econômica, o empresariado industrial e o capitalismo financeiro em duas estratégias de desenvolvimento similares, contudo, processadas em regimes políticos antípodas: o Nacional-Desenvolvimentismo Autoritário (1974-1979) e o Novo Desenvolvimentismo Democrático (2011-2016). Os resultados da pesquisa mostram que, no primeiro caso, o II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND) constituiu uma ação deliberada do Estado para transformar estruturalmente o capitalismo industrial e aprofundar a industrialização substitutiva de importações (ISI) a partir de um modelo de desenvolvimento pautado na mudança estrutural com endividamento. Tal paradigma refuta a ideologia do livre-mercado, mas enfrenta os poderosos interesses da grande imprensa e do capitalismo financeiro materializados na “campanha contra a estatização da economia”. No segundo caso, que assinala a primazia do capital financeiro rentista e improdutivo – fruto das profundas transformações da economia internacional na década de 1970 -, o governo Dilma Rousseff tentou inverter a tradicional “equação distributiva” no Brasil, fundamentada na “privatização dos ganhos” e na “socialização dos prejuízos”, que remetem aos governos de Getúlio Vargas e João Goulart. Ademais, buscou reforçar o modelo de desenvolvimento produtivo/industrializante, todavia, sucumbiu diante do poder do capital financeiro articulado politicamente a uma poderosa coalizão liberal-conservadora signatária de uma agenda socialmente regressiva e de destruição dos fundamentos da Constituição Federal de 1988. Ambos os experimentos evidenciam os obstáculos estruturais impostos pelo sistema financeiro a uma estratégia de desenvolvimento de longo prazo direcionada ao setor produtivo.

Leia o artigo de Carlos Eduardo Santos Pinho em https://www.scielo.br/j/rec/a/PjMxX8CQyrCkZfNQc5Lmvpm/?format=pdf&lang=pt

A primeira década do século XXI foi marcada, no Brasil, por importantes mudanças econômicas, sociais e políticas: redução significativa das desigualdades de rendimento; diminuição relevante do desemprego e crescimento do emprego formal; saída da miséria de parcela expressiva da população em decorrência de políticas sociais; aumento do investimento em educação, saúde, habitação, infraestrutura urbana, cultura, dentre outros, que resultaram na redução das desigualdades em múltiplas dimensões. Contra esse pano de fundo, e tendo em vista o histórico caráter dual da cidade brasileira, a pergunta a que o artigo procura responder é: a redução multidimensional das desigualdades diminuiu a segregação e as desigualdades urbanas? Diante das mudanças mencionadas, nossa hipótese é de que a resposta é positiva. Para demonstrá-lo, o artigo lança mão dos dados dos censos demográficos de 2000 e 2010 e compara as regiões metropolitanas do Rio de Janeiro e de São Paulo, utilizando como base inovações metodológicas importantes na forma de construção das categorias de análise, vis-à-vis os estudos existentes sobre o tema. Leia o artigo de Adalberto Cardoso e Edmond Préteceille em https://www.scielo.br/j/rbeur/a/wzn5bg8gYQJp3ByXx58X7jy/?format=pdf&lang=pt

A relação dos arranjos institucionais e do movimento da Responsabilidade Social Empresarial (RSE) com a igualdade de gênero tem sido escassamente analisada no contexto de economias em desenvolvimento. Pretendemos contribuir com o preenchimento desta lacuna, trazendo para o debate os conceitos de emancipação nas organizações e grupos de suporte. Indagamos de que maneira a igualdade de gênero fomentada em economias em desenvolvimento por iniciativas de corporações transnacionais, por meio de grupos de suporte, permite transformações organizacionais que fortalecem a emancipação das mulheres nas organizações? Para responder a essa pergunta, apresentamos os resultados de uma etnografia feita em uma empresa transnacional que atua no Brasil. Os achados evidenciam que esta iniciativa pode levar a transformações organizacionais que fortaleçam o empoderamento das mulheres se elas se inscreverem em um quadro institucional que garanta a participação de múltiplos atores.

Leia o artigo de Pedro Jaime e outros em https://www.scielo.br/j/civitas/a/7hjpH9cWrkm8VBqFwYgNyHr/?format=pdf&lang=en

Agências de rating atacam sistematicamente a candidatura de Lula em eleições presidenciais, sempre em benefício do candidato da direita. Por outro lado, uma vez eleito, Lula assiste apenas a melhoras recorrentes do rating brasileiro.

Leia o artigo de Pedro Lange Machado em https://diplomatique.org.br/a-estavel-relacao-entre-os-governos-lula-e-as-agencias-de-rating/

Los grandes voceros del capitalismo parecen perdidos en un pesimismo opaco, producto de su sistemática incapacidad para pensar otro modelo. Hubo un tiempo en que el patrimonio de las lecturas terminales del capitalismo lo poseía el marxismo. Durante las primeras décadas del siglo XX, la crisis del liberalismo decimonónico, la primera guerra mundial, la revolución soviética y el quiebre de las bolsas de 1929, alimentaron un extraordinario debate económico acerca de la inminente debacle de la moderna sociedad burguesa. Los “treinta (años) gloriosos” que emergieron después de la segunda guerra mundial (1945-1975) y que dieron los mayores índices de expansión económica y bienestar social a Europa y EE. UU., aplacaron el debate sobre el derrumbe. La implosión del llamado “socialismo real” en 1989 y el triunfo inapelable del capitalismo de libre empresa en los años posteriores, cerraron temporalmente cualquier referencia en torno a los límites del capitalismo. De hecho, desde entonces podía presentarse como el insuperable final del camino del progreso humano. Pero la celebración del “fin de la historia” no duro mucho.

Leia o artigo de Álvaro García Linera em https://www.celag.org/capitalismo-tardio-y-neocatastrofimos/

Este estudo tem como objetivo analisar traços da mentalidade potencialmente autoritária a partir do discurso de usuários do Facebook vinculados a páginas de cunho político autodeclarado de direita e de esquerda no Brasil. A Netnografia é utilizada como aporte metodológico para imersão on-line nas páginas “Eu era Direita e não sabia” e “Jovens de Esquerda”, selecionadas por meio do Facebook Audience Insights, ferramenta disponibilizada pelo Facebook. Delas, foram extraídas oito postagens com maior engajamento (número de comentários, curtidas e compartilhamentos), identificadas pelo Netvizz. Foram coletados 3.489 comentários, os quais foram organizados em um corpus textual submetido ao software IRAMUTEQ e analisados sob a perspectiva da análise crítica imanente da teoria crítica. Como resultado, apresenta-se a forma como o pensamento autoritário se manifesta na racionalização da sociedade contemporânea e nas práticas discursivas em redes sociais on-line, enraizada no âmbito sociopolítico brasileiro, ameaçando o processo democrático e a construção de uma sociedade plural e liberta. Leia o artigo de Rochelly Rodrigues Holanda e Deborah Christina Antunes em https://www.scielo.br/j/pcp/a/gnK68q5CSjYL7CQ8H4x5Kjj/?format=pdf&lang=pt

A justiça brasileira não somente negligenciou as violações de direitos humanos perpetradas pelos militares durante o regime autoritário, como sobrescreveu a tese de que a impunidade dos algozes era condição indispensável para consolidação do trânsito democrático. A partir da análise da Lei de Anistia de 1979, da instituição da Comissão Nacional da Verdade em 2011 e do projeto memorialístico dos militares sobre os anos de chumbo, discutimos a fabricação desse argumento e sua relação com a constituição de um dispositivo de poder capaz de garantir uma condição política privilegiada aos militares, mesmo sob a égide do regime democrático.

Leia o artigo de Emerson Oliveira do Nascimento em https://www.scielo.br/j/rdp/a/vnr6DdR3Qrxy55MMbc9jXNH/?format=pdf&lang=pt

A liderança autoritária é um desafio à análise organizacional. A perplexidade sobre como aceitamos que ela tenha ocorrido diversas vezes na história perpassa o pensamento de intelectuais como Adorno, Habermas, Sloterdijk e Arendt. Uma maneira complementar de estudá-la é por meio da literatura. A literatura possui enorme potencial interpretativo do mundo que, dada a criatividade de suas autoras e autores, consegue trabalhar temas complexos, personagens, eventos, com uma liberdade que a ciência, pelo seu rigor metodológico, muitas vezes não se permite. Como organizações são também constituídas discursivamente, os elementos textuais da literatura nos permitem uma liberdade epistemológica, ensejando análises que consigam abordar temas organizacionais tradicionais, como a liderança, de outra maneira. A proposta deste ensaio teórico é valer-se de um clássico da literatura, o romance Moby-Dick, para a partir dele realizar uma análise crítica do discurso, baseada em Norman Fairclough, da liderança monomaníaca neoliberal-autoritária de Paulo Guedes, ministro da Economia do governo Jair Bolsonaro. O objetivo é demonstrar o potencial e a riqueza do uso da literatura combinada à análise do discurso para a compreensão de fenômenos organizacionais. A interpretação será guiada pelo estilo de liderança da personagem Acab, capitão do navio Pequod, que devido à sua obsessão por caçar a cachalote branca gigante, Moby Dick, conduz sua embarcação a um desfecho trágico, similar ao que vem ocorrendo ao Brasil devido ao ódio ao Estado presente nos discursos de Paulo Guedes.

Leia o artigo de Ricardo Vinicius C. dos Santos e Carvalho em https://www.scielo.br/j/osoc/a/6sGQ6yScXKHzZRVsZYYjRTb/?format=pdf&lang=pt